Gravar em ambientes dinâmicos como espaços naturais ou ruas movimentadas é um exercício técnico estimulante pela quantidade de sons que encontramos num espaço não controlado. Por isso, e pelas questões acústicas que referimos anteriormente, cada gravação é um desafio único.
Para superar esse desafio, estar bem equipado é importante, mas não é a única garantia de uma boa gravação. Há mais uns truques que devem ter na manga.
A colocação dos microfones é importante. Devem, obviamente, apontar o microfone para a fonte de som que querem gravar mas, sempre que possível, contra a fonte de ruído - uma estrada, uma multidão - no ponto cego do padrão polar do microfone. Ou seja, coloquem o vosso assunto de maneira que o microfone fique “de costas voltadas” para o som que não querem captar.
Tirem proveito do efeito de proximidade dos microfones. Os microfones devem estar o mais perto possível da fonte de som, não só para não terem que os amplificar em demasia, mas também para que o sinal principal domine o campo sonoro que vão captar. Tendo um sinal dominante, que não necessita de maior volume de captação, os sons extra passam mais despercebidos.
Outro truque é apontar os microfones para cima, para evitar sinais refletidos pelo chão. Como o piso é a única área de reflexão sonora constante que existe no exterior, não se devem esquecer dele. É uma parede que têm debaixo dos pés que irá refletir todos os sons que existem no ambiente. Se colocarem o microfone num ângulo que não capte o chão, irão reduzir imensos problemas.
Gravem sempre som ambiente. O conhecido room tone é muito útil para duas coisas: primeiro, para disfarçar intervalos na edição. Segundo, para identificar ruídos estranhos que podem passar despercebidos durante a captação. Gravem um minuto só de som ambiente e irão ver a diferença que irá fazer na vossa edição. Se o efeito de proximidade abafar demasiado o som ambiente, podem compensar com este áudio.
Estudem bem o cenário. Estão sobre um piso de madeira ou de cimento? Os passos e as vibrações passam despercebidos ao ouvido humano mas os microfones captam tudo. Há um ruído constante, como o zumbido de um candeeiro de rua? E se há, deve fazer parte ou não do resultado final? Se estiverem atentos ao que entra nos vossos headphones, irão identificar imensos problemas que nunca conseguiriam resolver na edição.
Há demasiado ruído em volta (demasiado vento ou começou a chover) e não conseguem gravar em ambiente controlado? Vão para o carro. Gravar dentro de um automóvel é o mais parecido que se tem com um estúdio, mas com o facto de se ouvir ainda o ruído de fora. É uma boa solução de recurso para ter um som mais controlado sem perder ambiência.
Usem a imaginação. Se ouvirem um som interessante, guardem-no. Nunca se sabe o que poderão fazer com ele.
Acima de tudo, gravar num espaço que não controlam implica que têm de o ouvir com mais atenção e estarem mais presentes no momento. É uma experiência muito interessante e um teste à nossa capacidade de perceber o assunto que queremos captar - de instrumentos a pessoas - assim como aquela parcela de mundo onde estão a trabalhar.
Fonte: Salão Musical